Os desafios e o potencial da Agricultura
Urbana e Periurbana em Belém

Nas ilhas, no continente, nas escolas, nas unidades de saúde ou nos quintais das casas. Açaí, cacau, mandioca, hortaliças e plantas medicinais. Familiar e comunitária. Para comercialização e autoconsumo. A agricultura está presente de diversas formas na capital paraense.

2 Você sabia?

A agricultura urbana e periurbana
em Belém tem o potencial de
abastecer com legumes e verduras

1,7 milhão
de pessoas.

Isso é mais que toda a população
de Belém (1,5 milhão)!

Também pode
suprir mais de

950 mil
pessoas

com bebida de
açaí por ano…

e gerar

3.267
empregos.

89%

dos estabelecimentos
agropecuários de Belém
são da agricultura familiar.

11%

da população da Região Metropolitana
de Belém (RMB) compra alimentos
nas feiras. No resto do Brasil, esse
número é de apenas 4%.

80%

dos alimentos
comercializados na
CEASA do Pará vêm
de outros estados.

3

Os alimentos
e o território

Qual a relação entre os alimentos e o território urbano?

Explore a imagem para acessar os dados e entender como se configuram as relações de produção, abastecimento, comercialização, consumo e instituições que compõem o sistema alimentar urbano de Belém e região.

4

A Agricultura Urbana e
Periurbana em Belém

Nesta seção, observamos mais de perto a agricultura praticada na capital paraense, seja ela urbana (realizada dentro da área urbanizada) ou periurbana (nas regiões mais afastadas e menos urbanizadas, chamadas de franjas da cidade). Os dados são oriundos do Censo Agropecuário e do mapeamento das experiências de agricultura realizados in loco pelo presente estudo.

Foto: Moisés Savian/ Acervo Instituto Escolhas

O Censo Agropecuário de 2017 (IBGE) identificou 601 estabelecimentos agropecuários em Belém:

Distribuição do número dos estabelecimentos
agropecuários de acordo com a área

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Fonte: Censo Agropecuário 2017 (IBGE)
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 2017: resultados definitivos. Rio de Janeiro: IBGE, 2019. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br. Acesso em: 08 seet. 2022.
85%
dos estabelecimentos
têm menos de 20 hectares.
89%
dos estabelecimentos são
de agricultura familiar.
37%
dos estabelecimentos são chefiados
por mulheres, percentual acima do
estado (20%) e país (17%).
69%
dos estabelecimentos produzem
açaí, 53% por meio de cultivo
e 16% por meio de extrativismo.*
O açaí pode ser cultivado, plantado intencionalmente com fins comerciais, ou manejado, extraído dos açaizeiros nativos na floresta.
20%
dos estabelecimentos
produzem macaxeira.
Os galináceos são o tipo de produção
animal mais frequente, verificados em
12% dos estabelecimentos.
Na horticultura, os produtos mais
frequentes são cebolinha, couve,
caruru, alface, chicória e cheiro verde.
Belém possui nove projetos
vinculados ao Programa Nacional
de Reforma Agrária.

De forma complementar, a pesquisa produziu um mapeamento visual das áreas de agricultura no município, por meio do geoprocessamento e da análise de imagens de satélite. Foram delimitados 163 polígonos, totalizando uma área de 235,2 hectares.

Essas áreas, assim como a dos estabelecimentos do Censo Agropecuário, podem ser identificadas em nosso mapa interativo.

Os tipos de agricultura
em Belém

Um aspecto essencial para se observar na relação de Belém com a produção dos alimentos é a localização dos terrenos produtivos: nas áreas de várzea – suscetíveis a inundações periódicas –, predominam o extrativismo e o manejo florestal. Em terra firme, destacam-se a horticultura, as lavouras temporárias e o açaí cultivado. O estudo identificou oito tipos de agricultura em Belém.

Estudos de caso de
Agricultura Urbana

Aqui, você encontra análises da viabilidade econômico-financeira de alguns tipos de agricultura urbana e periurbana em Belém, selecionados de acordo com a localização geográfica, a diversidade e o sistema de produção, entre outros critérios.

Localização

Área Total

Área produtiva

Relação com a terra

Tempo em atividade

Mão de obra

Produção

Produtos

Acesso ao mercado

5

Mapa Interativo

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as categorias ao lado
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as categorias abaixo

Uso do solo

?

Elaboração própria a partir de imagens de alta resolução do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de 2020.

Áreas de ambientais e assentamentos

Agricultura urbana e periurbana

Oferta e comercialização de alimentos

Estabelecimentos públicos

?

Georreferenciamento realizado a partir dos dados de 2022 disponibilizados pelas Secretaria Municipal de Economia/Departamento de Feiras e Mercados e Secretaria Municipal de Educação e Cultura/Núcleo Setorial de Planejamento. Para mais informações, baixe os dados georreferenciados na seção Créditos.

Estabelecimentos privados

?

Distribuição dos estabelecimentos que comercializam produtos in natura, misto e ultraprocessados no território, de acordo com a população residente.

Análise realizada a partir da classificação dos estabelecimentos comerciais listados na Relação Anual de Informações Sociais de 2019, segundo os critérios propostos no “Estudo técnico: Mapeamento dos Desertos Alimentares no Brasil” de 2018. Disponível em: https://bit.ly/MapeamentoDesertos.

Os estabelecimentos classificados nas categorias in natura/misto ou ultraprocessados foram georreferenciados a partir do CEP (informação disponível na RAIS), localizados no território por meio da API do Google (geolocation) e agregados em uma malha hexagonal de 1 km.

O número total de estabelecimentos foi dividido por população residente em cada malha, obtida a partir de uma extrapolação do Censo de 2010 dos setores censitários, utilizando escala de 5 mil habitantes.

6

Próxima parada: Belém da
agricultura urbana sustentável

Qual o potencial da agricultura urbana de Belém se praticada de forma sustentável? Em que espaços ela pode ser desenvolvida? Quantas pessoas ela poderia alimentar? Nesta seção, você encontrará dados que buscam responder essas questões.

Um dos passos para fomentar a agricultura nas cidades é a identificação de espaços adequados para o desenvolvimento da atividade. Áreas não edificadas, terrenos não utilizados ou subutilizados, sem cobertura florestal, podem ser, potencialmente, dedicados para a agricultura urbana. Pensando nisso, o estudo mapeou 699 polígonos de áreas públicas ou privadas em Belém, que poderiam ser ocupadas pela produção de alimentos. As áreas, cuja soma equivale a 1.170 hectares, podem ser visualizadas no mapa ao lado.

A destinação de parte desses espaços para a produção agrícola, somada à melhoria da produção em áreas da cidade onde alimentos já são cultivados, serviu como base da simulação de dois cenários, que usaram modelos de produção sustentável distintos para explorar o potencial da agricultura urbana e periurbana em Belém. Confira os resultados.

Espaços potenciais

Espaços potenciais

Áreas não edificadas e terrenos não utilizados ou subutilizados, sem cobertura florestal, podem ser, potencialmente, dedicados para a agricultura urbana.

2 Modelos de agricultura urbana sustentável em Belém

Premissas

Modelo A - Lote Agrícola

Modelo B - Lote pluriativo

Estratégia

Ocupação intensiva de espaços
potenciais para a agricultura urbana

Incremento da produtividade
dos sistemas biodiversos

Localização

Terra firme

Várzea

Área total

0,5 hectare

5 hectares

Produtos

Hortaliças (cultivo protegido) e macaxeira

Açaí (manejo de mínimo impacto)

Mão de obra

2 pessoas em período integral

Diarista

Insumos

Apropriados para a produção orgânica, com demanda permanente de sementes, adubação e tratamento fitossanitário.

Não utiliza

Investimento inicial

Entre R$ 13 mil e R$107 mil (considerando a aquisição de um veículo utilitário no cenário de maior investimento)

R$ 9.360,18/hectare

Produção
Por safra, entre março e setembro
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Guia prático de manejo de açaizais para produção de frutos. 2. ed. Macapá: Embrapa, 2012.
Ver detalhes deste modelo aqui

Qual o potencial da
agricultura urbana
e periurbana em Belém?

Nesta seção, são apresentados os resultados da simulação de dois cenários que consideram a implementação dos modelos A e B em áreas potenciais e em áreas que já produzem alimentos em Belém.

Cenário 1

Implementação
Modelo A

Característica da área considerada

310 hectares de espaços potenciais (não utilizados) em Belém com área superior a 5.000m², equivalente a 26% do total mapeado, e 34 hectares de áreas já produtivas.

Tamanho total da área simulada

344 hectares

Produtos

Legumes
e verduras

Volume da produção

19.405
toneladas
por ano

Potencial de
abastecimento
1,7 milhão
de pessoas
ao ano*
Considerando um consumo médio diário de hortaliças na região Norte de 31,9 g/per capita.
Potencial de empregos

1.376
pessoas

Cenário 2

Implementação
Modelo B

Característica da área considerada

3.907 hectares de áreas que já produzem açaí (lavouras permanentes e extrativismo) e 1.441 hectares de áreas potenciais que ainda não realizam o manejo do fruto.

Tamanho total da área simulada

5.348 hectares

Produtos

Açaí

Volume da produção

30.431
toneladas
por ano

Potencial de
abastecimento
951.266
pessoas ao
ano*
Considerando um consumo médio de 1,33 kg de bebida de açaí por habitante/mês e rendimento médio no processamento do fruto de 50%.
ou 63,1%
da população
de Belém
Potencial de empregos

1.891
pessoas

Segurança alimentar em bairros
economicamente vulneráveis

No bairro Tenoné, localizado no distrito de Icoaraci, foram mapeados

48 hectares de potenciais espaços
para agricultura urbana.

Caso fossem ocupados com unidades produtivas no modelo Lote Agrícola, seria possível produzir

2.683 toneladas de alimentos por ano, capazes de abastecer 230 mil pessoas e gerar emprego e renda para 191 pessoas.

Atualmente, o bairro possui quase 6 mil famílias cadastradas no CadÚnico para acessar políticas de assistência social, entre elas, políticas de renda e acesso a alimentos, com impacto direto na segurança alimentar.

Confira 11 ações para promover a
agricultura urbana sustentável em Belém

Foto: Moisés Savian/ Acervo Instituto Escolhas

1

Promover o acesso dos agricultores do município à assistência técnica, com o objetivo de aumentar a produtividade e melhorar os sistemas produtivos, o gerenciamento da atividade e a comercialização.

2

Promover as regularizações fundiária e ambiental dos estabelecimentos agrícolas existentes.

3

Estimular a concessão de áreas públicas sem destinação ou uso para a agricultura urbana.

4

Articular órgãos dos governos estadual e federal para garantir o acesso por parte dos agricultores de Belém a políticas de assistência técnica, crédito e outras.

5

Promover, em parceria com instituições públicas e privadas diversas, a capacitação e a mobilização dos agricultores do município para o cooperativismo e a organização das cadeias produtivas, como forma de facilitar a comercialização de alimentos e a obtenção de insumos e equipamentos para o processo produtivo.

6

Promover políticas de apoio ao escoamento de produtos da agricultura urbana das ilhas para o continente, via transporte fluvial.

7

Promover políticas de estímulo à aquisição de alimentos da agricultura urbana por parte de restaurantes, mercearias e supermercados do município, promovendo circuitos curtos de comercialização.

8

Estimular o reconhecimento e a certificação da produção orgânica e agroecológica no município.

9

Promover a aquisição de alimentos da agricultura urbana por meio das compras institucionais do Município (escolas, hospitais, restaurantes populares).

10

Criar um Serviço de Inspeção Municipal (SIM) que possibilite a adequação e agregação de valor da produção local.

11

Inserir a agricultura urbana e periurbana no plano diretor municipal, instrumento de planejamento territorial e regulação do uso do solo.

7

Método

Os métodos de pesquisa aplicados foram inspirados no estudo “Mais perto do que se imagina: os desafios da produção de alimentos na metrópole de São Paulo”, lançado pelo Instituto Escolhas em 2020.

A partir do recorte geográfico da cidade de Belém e de sua região metropolitana, fez-se um amplo levantamento dos dados secundários disponíveis sobre as relações de produção, comercialização e consumo que caracterizam o sistema alimentar urbano regional. Os dados foram analisados, tratados e apresentados de forma descritiva e, quando possível, georreferenciada.

As agriculturas praticadas em Belém foram alvo de uma análise detalhada, que mobilizou dados secundários e primários (coletados pela equipe de pesquisa dedicada ao estudo), quantitativos e qualitativos. O estudo estruturou, ainda, uma tipologia das agriculturas belenenses, a partir da qual foram selecionados cinco casos para a aplicação de modelos de análise econômico-financeira.

A partir dos resultados da análise econômico-financeira, foi possível elaborar modelos hipotéticos de unidades produtivas e simular o potencial de produção de alimentos e de geração de empregos no território de Belém. A simulação contou com dados georreferenciados dos espaços vazios na cidade.

Todos os dados levantados pelo estudo, assim como mais informações acerca da metodologia e do referencial utilizado, estão disponíveis nos links abaixo:

BAIXE O RELATÓRIO COMPLETO PARTE 1 BAIXE O RELATÓRIO COMPLETO PARTE 2

Os desafios e o potencial da agricultura urbana e periurbana em Belém

Estudo idealizado pelo Instituto Escolhas.

Coordenação Geral – Instituto Escolhas

Jaqueline Ferreira, Camilla Guimarães e Vitória Leão.

Equipes de Pesquisa

Análise sistema alimentar: Osvaldo Aly Jr., Fernando Gaiger Silveira, Bernardo Campolina e Alan Nunes Araújo.

Análise agricultura urbana e periurbana: Moisés Savian, Sheryle Santos Hamid e Caio Cezar Ferreira de Souza.

Mapeamento de instituições: Ciria Rosa.

Georreferenciamento estabelecimentos: Carolina Passos.

Design e desenvolvimento

FIB – Fabrica de Ideias Brasileiras

Edição de texto

Cinthia Sento Sé e Jaqueline Ferreira

Revisão de texto

Luisa Ghidotti

Como Citar

Instituto Escolhas. Os desafios e o potencial da agricultura urbana e periurbana em Belém. São Paulo: 2022.

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